Com a popularidade da internet e
com a ascensão dos movimentos sociais nas redes sociais, eu tive oportunidade
de abrir minha mente e tentar responder questionamentos que sempre tive desde
pequeno. Eu sempre gostei de assistir filmes, novelas, desenhos e ver revistas
de famosos, mas eu nunca via um rosto com traços semelhantes aos meus. Eu
sempre via a mesma coisa. Pessoas brancas, de olhos claros, cinturas finas e
cabelos lisos.
Com o passar do tempo, eu comecei
a assistir os jornais da TV aberta e os jornais locais, mas novamente aquela
pergunta vinha a minha mente: Não existem jornalistas negros? E se existem, por
que eles não estão ali? Moramos na Bahia, onde Salvador é a cidade com mais
negros fora da África e todos jornalistas do canal da Bahia são brancos, com
traços caucasianos e não há um jornalista ou qualquer negro com um cargo
importante e relevante.
O mais engraçado é o fato que
pessoas brancas adoram utilizar nossas roupas, acessórios e tentam de todas as
formas se assemelhar com nossos traços. Querem nossos turbantes, nossas
tranças, nossos blacks, nossas músicas, mas não nos querem ocupando os mesmos
espaços que eles. Nossa cultura é popular, mas nós não somos. Todo mundo quer
ser negro, mas na realidade ninguém quer ser realmente negro.
Nós existimos, assistimos,
compramos e vestimos as mesmas coisas que vocês. E nunca aparecemos em jornais
ou novelas. Quando aparecemos as mulheres negras são hipersexualizadas e
tratadas como as “piriguetes barraqueiras” ou são empregadas. Já os homens
sempre são marginalizados, são traficantes ou tem papeis secundários que só
servem para reforçar aquele velho estereotipo que o homem negro é um monstro.
Essa falta de representatividade
faz com que desde crianças, eu e você tenhamos vergonha da nossa cultura, da
nossa cor e dos nossos traços. Eles tentam esconder nossos crespos forçando o
alisamento, embranquecem nossa pele com produtos de beleza, marginalizam nossa
música e demonizam nossa religião. E mesmo assim, nós resistimos e estamos
firmes aqui. Nossa existência já é um AFROnte e uma forma de resistência.
Aos poucos, nós vamos ocupando
espaços que é dominado por pessoas brancas. Há alguns dias, tivemos a primeira
negra a ganhar um Emmy Awards. Essa premiação existe desde 1949 e em 2015, nós
vimos pela primeira vez uma mulher negra ganhar um. E eu pergunto novamente,
onde estavam os negros durante esses 66 anos? Imaginem quantas pessoas se
sentiram representadas e pela primeira vez viram alguém da sua cor ganhar um
prêmio que até então só era propriedade de astros brancos de Hollywood.
Por fim, eu deixo o belo discurso
de Viola Davis a PRIMEIRA vencedora negra de um Emmy Awards:
“Em meus sonhos e visões, eu via
uma linha, e do outro lado da linha estavam campos verdes e floridos e lindas e
belas mulheres brancas, que estendiam os braços para mim ao longo da linha, mas
eu não conseguia alcançá-las. Deixem-me dizer algo: a única coisa que separa as
mulheres negras de qualquer outra pessoa é a oportunidade. Você não pode vencer
um Emmy por papeis que simplesmente não estão lá.”
Texto retirado na íntegra em Turbantei
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